Nesta semana, vivi fortemente o meu IKIGAI dentro de um ônibus urbano na metrópole São Paulo. A experiência começou quando agendei um cliente no extremo da Zona Sul da capital paulista.
Resolvi fazer o trajeto da região Central para lá com transporte público, pois há muitos corredores exclusivos, o que me garantia uma viagem de aproximadamente uma hora. Chovia muito e, de carro, certamente levaria horas no horário de pico em direção a Interlagos.
Antes de embarcar, separei um bom livro sobre Propósito de Vida, bloco de anotações, lápis e fones de ouvido, caso quisesse variar meu passatempo. Já dentro do ônibus, escolhi um assento, pois subi no ponto inicial, e queria assegurar que não chegaria amarrotada no destino final para atender o meu cliente PhD em física nuclear que busca sentido em sua vida após uma aposentadoria compulsória.
Nos primeiros minutos da jornada, confesso que comecei a ler, mas desisti quando o ônibus passou na frente do Museu Catavento, localizado em um edifício histórico que já abrigou a prefeitura da capital anos atrás. Iniciei uma contemplação ímpar, porque a estrutura arquitetônica é de encher os olhos de quem valoriza as origens de qualquer cidade. De São Paulo não seria diferente.
O dia estava cinzento por causa da chuva e isso poderia aumentar a sensação de cidade de pedra ao misturar-se às variadas tonalidades de cimento das grandes construções ao longo do trajeto. No entanto, o estado de apreciar e valorizar o presente, o aqui e agora, continuou quando o coletivo entrou na Avenida 23 de maio, também conhecida como Corredor Norte-Sul, por ligar essas duas grandes regiões da capital.
Pela janela, meus olhos selecionavam todas as belezas dessa grande via, que tem aproximadamente 23 quilômetros de extensão.
E foram inúmeras! A primeira delas ficou por conta dos jardins verticais que dão vida e colorem, em vários tons de verde e carmim, os paredões de cimento que aparecem ao longo do trajeto. Fiquei tão envolvida com essas belezas naturais junto às construções humanas que, em alguns momentos, passei as mãos nos vidros como se pudesse tocá-las para sentir a textura e o frescor delas em minha pele.
Observei também o vai e vem de carros e motociclistas apressados para as entregas nas alças de acesso que abrigam praças com árvores em verdes vibrantes ao saudar a chuva tão esperada após cem dias de estiagem. Os inúmeros ipês, desnudados pela ação do clima, anunciam o frio úmido que chega para ficar na cidade mais cosmopolita do Brasil.
Ao longe, a imponência do Obelisco do Ibirapuera neutraliza ruídos e buzinas do trânsito de fim de tarde e, brevemente, sinto vontade de saber se nossos hermanos porteños nos copiaram ou nós fizemos isso com os argentinos.
Essa reflexão se perde segundos depois, quando retomei meu estado de flow, imersa no espetáculo apresentado pela grama finamente aparada em contraste com as fontes do Parque do Ibirapuera, que dançavam sem público aparente, ainda por conta da chuva. Do outro lado da avenida, edifícios de luxo têm vista livre para apreciar uma das maiores áreas verdes de São Paulo.
A jornada não parou por aí: o Corredor abriga trechos com serviços específicos, como uma região de hospitais públicos e de alto padrão, além de assistência à saúde, com instituições dedicadas à medicina diagnóstica, concessionárias de veículos, lojas de conveniência e restaurantes. Por essa via também temos acesso a um dos aeroportos mais movimentados do país: Congonhas, no qual as bandeiras de São Paulo, do Brasil e da Infraero se agitam para passageiros, visitantes, hotéis, locadoras de veículos e escolas de aviação que completam a vizinhança da região.
Mais adiante, avisto a obra do monotrilho para a Copa realizada no Brasil em 2014 e vejo nele a esperança de que um dia, mesmo com muito atraso, seja inaugurado para a população. Nesse momento, percebi que o ônibus estava lotado. No relógio vi que uma hora se passou desde o ponto inicial e já estava próxima do local de desembarque. Não vi o tempo passar.
Ao vivermos nosso IKIGAI, temos consciência de que desfrutar da jornada é tão importante como alcançar uma meta, portanto, não nos deixamos afligir pelas atribulações do dia a dia, pois ele é essência e está intrínseco em nosso ser.
Nesse caso, observar de maneira simples e original as belezas geradas pela natureza em harmonia com as construções feitas pelo homem, me fez atingir um estado de presença sustentável.
Isso refletiu em uma entrega com a plenitude da mandala IKIGAI: com mais amor, fiz melhor o que já estou apta a fazer, fui remunerada por isso e, ainda, consegui alcançar o meu legado do dia, pois sei que trilhei, junto ao meu cliente, um caminho para que, na busca do sentido da vida, ele também reencontre a sua razão de ser, ou seja, o seu verdadeiro IKIGAI.
Adriana Souza
Jornalista – Coach – Palestrante
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